domingo, 10 de agosto de 2008

BOSQUES DO SILÊNCIO

BOSQUE DO SILÊNCIO
Por Eduardo Galeano

Muitos são os anéis que seus aniversários desenharam em seu tronco.
Estas árvores, estes gigantes cheios de anos, levam séculos cravados no fundo da terra,
e não podem fugir, Indefesos diante das serras elétricas, rangem e caem.
Em cada derrubada o mundo vem abaixo; e a passarada fica sem casa.

Morrem assassinados os velhos estorvos. Em seu lugar, crescem os jovens rentáveis.
Os bosques nativos abrem espaço para os bosques artificiais.
A ordem, a ordem militar, ordem industrial, triunfa sobre o caos natural.
Parecem soldados em fila os pinheiros e eucaliptos de exportação, que marcham rumo ao mercado internacional.

Fast food, fast wood: os bosques artificiais crescem num instante e vendem-se num piscar de olhos.
Fontes de divisas, exemplos de desenvolvimento, símbolos de progresso, esses criadouros de madeira ressecam a terra e arruínam os solos.

Neles, os pássaros não cantam.
As pessoas os chamam de bosques do silêncio.