segunda-feira, 15 de agosto de 2016

USO DE AGROTÓXICOS EM CANA-DE-AÇÚCAR NA BACIA DO RIO CORUMBATAÍ E O RISCO DE POLUIÇÃO HÍDRICA

O Brasil apresenta um dos maiores mercados na área de proteção
de plantas. Em 1998, o volume de insumos fitossanitários consumidos
colocou o país no 2º lugar mundial1, movimentando, em
2003, cifras da ordem de 3,1 bilhões de dólares2. O estado de São
Paulo é o maior consumidor de agrotóxicos no Brasil, representando,
segundo dados do SINDAG2, 18,64% do valor comercializado
no país em 2003.

O estado de São Paulo é responsável por 58% da produção nacional
de cana-de-açúcar3, que representa 14,73% do uso do solo
rural do estado4. A cultura da cana-de-açúcar respondeu, em 2002,
por 11,5% das vendas de agrotóxicos no Brasil, atrás somente da
soja. Em 2003, a cultura representou 8,0% das vendas, ocupando a
4ª posição, movimentando 251 milhões de dólares2.
O cultivo de cana-de-açúcar abrange a quase totalidade do território
estadual, sendo que a região de Piracicaba foi considerada,
por muitos anos, a maior produtora. Nos últimos anos tem-se vislumbrado
um deslocamento da cultura, vindo a concentrar-se essencialmente
no eixo central-norte, composto principalmente pelas
regiões dos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR) de
Orlândia, Barretos, Catanduva, Jaboticabal, Ribeirão Preto,
Araraquara, Jaú, Assis, Limeira e Piracicaba. Dos 40 EDRs que
compõem o estado, os de Piracicaba e Limeira ocuparam o 7º e 9º
lugar em produção de cana-de-açúcar, no ano de 20025.
Grande parte da regional de Limeira e parte da regional de
Piracicaba são abrangidas pela sub-bacia hidrográfica do rio
Corumbataí, integrante da bacia hidrográfica do rio Piracicaba, onde
o cultivo de cana-de-açúcar é a principal atividade agrícola. Além
disso, o rio que atravessa esta bacia e que lhe empresta o nome é
responsável pelo abastecimento de vários municípios.

No entanto, com a intensificação do uso da água do rio
Corumbataí, principalmente pelo município de Piracicaba, devido
ao comprometimento da qualidade de outros mananciais, tem-se
vislumbrado, nos últimos anos, uma crescente preocupação com o
gerenciamento deste corpo hídrico. Sendo assim, o objetivo deste
trabalho segue em consonância com vários estudos desenvolvidos
nesta bacia, uma vez que o diagnóstico do uso de agrotóxicos no
cultivo da cana-de-açúcar nesta área é ferramenta primordial para
um gerenciamento adequado das atividades agrícolas, otimização
dos processos de monitoramento de resíduos e caracterização espaço-
temporal de exposição.

A definição dos agrotóxicos com probabilidade de atingirem o
corpo d’água é normalmente efetuada com base em índices de
particionamento, considerando as propriedades físico-químicas e persistência
ambiental, como GUS6 e LEACH7. Porém, o alto custo das
análises químicas para o monitoramento constante de todos os produtos
empregados ou daqueles prováveis de atingirem o corpo d’água
requer uma caracterização temporal do uso destes na área em estudo,
de modo a se atingir eficiência econômica e técnica no monitoramento.
Este levantamento serve de base para definição de estratégias de
monitoramento de pesticidas na calha principal do rio Corumbataí, no
projeto de Políticas Públicas financiado pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo, que visa a avaliação da qualidade da
água deste rio. Além disso, a indisponibilidade deste tipo de diagnóstico
para as condições brasileiras configura este levantamento como
inédito e de extrema importância para o direcionamento de pesquisas
de monitoramento e comportamento de pesticidas nas regiões produtoras
de cana-de-açúcar no estado de São Paulo.

Na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo encontram-se registrados 63 ingredientes ativos (i.a.)
formulados em 173 marcas comerciais para a cultura da cana-deaçúcar,
distribuídos da seguinte maneira: 132 herbicidas (40 i.a.),
29 inseticidas (15 i.a.), 5 fungicidas (4 i.a.), 5 reguladores de crescimento
(2 i.a.), 1 feromônio e 1 adjuvante14.
O levantamento efetuado resultou em uma lista de 24 ingredientes
ativos (Tabela 1) formulados isoladamente ou em misturas,
totalizando 39 marcas comerciais, empregados no período de quatro
anos na sub-bacia do rio Corumbataí e distribuídos em 15 grupos
químicos, sendo o grupo das triazinas representado por três
produtos, enquanto os demais compreendem uma ou duas moléculas.
Ao longo dos anos, o uso de triazinas na cana-de-açúcar, principalmente
atrazina, tem tido grande expressão.

Todos os ingredientes ativos e marcas comerciais empregados
encontram-se registrados para a cultura da cana-de-açúcar, seja no
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, seja na Secretaria
de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Observase
que no período de 2000 a 2003 houve utilização declarada de apenas
herbicidas nesta unidade investigativa (Usina Costa Pinto).

O diagnóstico qualitativo não evidenciou diferença significativa entre os
produtos aplicados na unidade investigativa e aqueles empregados por
outros produtores da bacia, comprovando a representatividade desta
unidade na área em estudo. O consumo de outras classes de agrotóxicos
é esporádico e em volume muito reduzido.

A distribuição dos agrotóxicos na cultura da cana-de-açúcar,
de acordo com as classes, é bastante heterogênea. De acordo com
Ferreira15, no Brasil, não houve consumo de acaricidas e fungicidas
no período de 1997 a 1999. consumo de inseticidas aumentou de
7,6 para 12,5% neste período, enquanto que os herbicidas apresentaram
uma redução de 85,9 para 82,2%. Os produtos enquadrados
como outros (antibrotantes, reguladores de crescimento, óleo mineral
e espalhantes adesivos) responderam por 6,55, 8,03 e 5,29%
dos agrotóxicos consumidos na cultura nos anos de 1997, 1998 e
1999, respectivamente. Além disso, com a expansão do controle
biológico, muitas áreas  reduziram  significativamente
o uso de inseticidas.


CONCLUSÕES
Os herbicidas representam a classe de agrotóxicos mais empregada
na cultura da cana-de-açúcar, sendo que, no período de
avaliação, foram os únicos produtos de uso declarado na unidade
investigativa, representando significativamente o uso de
agrotóxicos na sub-bacia do rio Corumbataí.

Os herbicidas glifosato,  atrazina, ametrina, 2,4-D, metribuzim,
diurom e acetocloro representaram aproximadamente 85% do
volume total de produtos consumidos de janeiro de 2000 a
dezembro de 2003, SENDO IMPORTANTE O SEU MONITORAMENTO NOS CORPOS HIDRICOS.

Outros herbicidas também devem ser considerados
apesar do baixo volume, como imazapir, pela grande freqüência
de uso e, sulfentrazona, trifloxissulfurom sódico, paraquate,
tebutiurom e imazapique, pela toxicidade e ALTA MOBILIDADE.

É notório que dentre os 24 ingredientes ativos identificados nesta
área, alguns apresentaram consumo indistinto ao longo do ano,
enquanto outros apresentaram padrão sazonal de aplicação, o
que permite um planejamento estratégico do monitoramento de
resíduos nos corpos hídricos, de modo a otimizar custos e garantir
a QUALIDADE do processo de avaliação de exposição.

Quim. Nova, Vol. 28, No. 6, 975-982, 2005
Artigo
USO DE AGROTÓXICOS EM CANA-DE-AÇÚCAR NA BACIA DO RIO CORUMBATAÍ E O RISCO DE POLUIÇÃO HÍDRICA


*e-mail: eduarmasrs@yahoo.com.br
Eduardo Dutra de Armas* e Regina Teresa Rosim Monteiro
Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Universidade de São Paulo, CP 96, 13400-970 Piracicaba - SP .
Armando Valler Amâncio, Rui Marcos Lopes Correa e Miguel Antonio Guercio
Escritório de Defesa Agropecuária, Coordenadoria de Defesa Agropecuária, Piracicaba - SP